Aceitação ou não-aceitação, eis a questão!
Dr.ª Madalena,
Bom dia,
Venho por este meio solicitar a sua ajuda/esclarecimento sobre um problema que tenho há algum tempo e o meu médico parece não lhe dar importância, dando a entender que é um problema da minha cabeça, que vou passar a explicar.
Tenho 41 anos, 1,62cm de altura e peso 56Kg, sei que estou dentro do peso considerado normal, mas não para mim pois sempre pesei entre 50 a 51Kg. Desde há dois anos que tento emagrecer sem sucesso, com apoio de uma nutricionista e PT. O problema é que com todo este stress de tentar emagrecer penso que desenvolvi uma ligeira depressão e o que se designa por compulsão alimentar noturna, pois ando muito ansiosa e fico bastante deprimida por não conseguir emagrecer. Por este motivo o meu médico de família receitou-me sertralina que tomei durante dois meses e não melhorei, agora estou a tomar fluoxetina 20mg há uma semana, 1 comprimido por dia e parece que ainda tenho mais vontade de comer, o que é estranho pois ele disse-me que com este medicamento o meu apetite iria reduzir e começar a perder peso pois a minha ansiedade iria diminuir.
Mas voltando atrás sobre o que despoletou este meu problema, queria transmitir-lhe o sucedido durante o processo da dieta e exercício, que para mim sempre foi difícil de compreender e por isso, ao ter conhecimento do seu site e blog, o qual gostei imenso por ser bastante esclarecedor, decidi solicitar a sua ajuda, caso seja possível.
Sempre tive cuidado com a alimentação (...). Comecei também a fazer exercício físico, cardio e musculação, e o resultado foi mínimo, 1Kg a 1,5Kg que facilmente ganhava se voltasse a comer por exemplo broa, ou fosse a uma festa e comia um pouco mais do que o normal. Aqui começou o meu dilema, não conseguir emagrecer mesmo com a dieta e exercício, pior, com o exercício o meu corpo modificou fiquei mais larga na anca e as minhas pernas mais volumosas, o que é estranho pois fazia muita corrida e musculação, mas sempre com o objetivo de perder gordura e não ficar mais volumosa, tentei várias modalidades e nada, aqui nem o professor nem a nutricionista souberam explicar o que se estava a passar, fiz muitas analises inclusive à tiróide e não acusou nada.
Por este motivo comecei a ficar deprimida e sem saber o que fazer, não tenho vontade de fazer nada, nem exercício, pois quando faço as pernas cada vez incham mais, tenho medo de continuar a engordar e não conseguir emagrecer. Tento me controlar pois só à noite após o jantar é que tenho vontade de petiscar qualquer coisa, quando isso acontece tento comer cenoura crua, 1 peça de fruta, frutos secos, pois não é por doces que tenho vontade de comer, nem chocolate, só que às vezes abuso quando dou por mim já comi uma taça média de amendoins secos sem sal, por exemplo. O meu médico diz que é o meu metabolismo que é assim, será?
Será que fiz todos os exames necessários para saber o que se está a passar comigo, será que me pode ajudar?
Não quero ficar dependente de medicação, principalmente por estar a achar que não faz efeito. Terei algum problema metabólico que não foi detetado, como é possível com o exercício ficar mais volumosa, mesmo passado meses?
Peço desculpa por este meu longo desabafo, mas já não sei o que fazer nem quem hei-de consultar.
Muito obrigada pela sua atenção e mais uma vez desculpe,
Obrigada,
Maria Inês
RESPOSTA:
Cara Maria Inês (como sempre, uso nomes fictícios...)
Como é que antes mantinha o seu peso nos 50-51 kg (i.e., um IMC de 19)?
2. E qual era o custo (físico, psicológico, familiar, social, financeiro, etc.), de 0 a 10, sendo 0 a nenhum custo e 10 a um elevadíssimo custo?
3. Sabia que há uma natural mudança nas pessoas com a idade? O metabolismo abranda com a idade, e o que era “eventualmente moderadamente fácil” de fazer passar a ser “moderadamente difícil”. A meu ver o que há a fazer é aceitar, ao mesmo tempo que se faz o que está a fazer: a tentar o seu melhor em todos os níveis. A aceitação também pode fazer parte da natural mudança nas pessoas com a idade, se assim tomarmos essa decisão. O contrário da aceitação pode ser variadíssimas situações, nomeadamente aumento da ansiedade, perda da alegria, ânimo e eventual depressão ou até distúrbios alimentares. Acrescento ainda que é tudo uma questão de escolha: aceitarmo-nos e sermos felizes ou fazermos braço de ferro com a nossa natureza e vivermos desgastados e infelizes. Congratulo-a por estar a fazer o seu melhor e a pedir ajuda, e desafio-a a encontrar uma maneira diferente de ser feliz.
Aguardo as suas respostas.
Melhores cumprimentos,
Madalena Muñoz