04
Jun08
"Dietista crónica": Um caso sério
Madalena Munõz
Fazer dietas faz mal! Em particular, o desgaste psicológico é salientado neste relato que aqui lhe apresento. Boa leitura.
A mentalidade de dieta é um dos obstáculos mais difíceis de derrubar no processo de ganhar uma atitude saudável para com a comida, mas esta tarefa é das mais cruciais para o sucesso do emagrecimento eficaz e permanente.
Sabendo que quanto mais queremos emagrecer mais nos focamos em comida, vamo-nos afastando cada vez mais do nosso objectivo! Temos de arranjar maneiras de parar de pensar tanto naquilo em que menos queremos pensar: em comida! Posto isto, veja o que aconteceu à Joana e aprenda o que pode fazer por si.
Conheça a dietista crónica
A Joana tem 35 anos e é uma jovem saudável que toda a vida fez dieta. Agora, com 75 quilos e 37% de massa gorda, numa estatura média de 1,60 m de altura, pensa que "mais valia ter estado quieta" quando há dez anos fez uma dieta drástica usando medicamentos selvagens, prescritos por um médico nuestro hermano sem "escrúpullon", pois com 65 quilos "não gostava dos pneuzinhos aqui no meio". Desde então fez inúmeras outras tentativas, e mais recentemente a muito popular "Desgraça 10" (das ervanárias), sem sucesso duradouro e com aumentos de peso ainda maiores finda cada dieta. Decidiu então que almoçaria diariamente num dos muitos supermercados ditos saudáveis, o "Acelareiro" mas quando eu soube o que come lá, não me admirei de não ter emagrecido nada. Almoça maioritariamente vegetariano, um princípio louvável, mas à base de fritos, panados, quiches, empadas e folhados, e no final não dispensa uma sobremesa de soja. Ou seja, finalmente tomou a iniciativa de almoçar num sítio "saudável" (supostamente), e nem isso a ajudou! Compreensivelmente está desesperada, sem saber o que fazer, o que comer, quanto e quando comer. Está até com medo de comer! Contudo, tem excesso de peso e só pensa em emagrecer, e acha que só com dietas e força de vontade vai lá.
1ª consulta comigo (nutricionista): O que gosta de comer?
Pedi à Joana que escrevesse tudo aquilo que gosta de comer. Não foi assim tão simples esta tarefa, porque tinha alguma dificuldade em discernir entre o que gostava mesmo e o que era suposto comer. Passados poucos minutos, pedi-lhe que escrevesse quais os alimentos, dessa lista, que considerava "bons" e "maus". Ela assim fez, apercendo-se que seccionava (mentalmente) a comida e expliquei-lhe como essa divisão lhe era prejudicial, pois quando em dieta só comia dos "bons", e quando parava com a dieta só comia dos "maus". E tinha este comportamento de extremos ironicamente por acreditar que esta divisão lhe era útil e indispensável para o controlo alimentar!
Estava tão enganada quanto todas as pessoas que assim continuam a fazer e que se restringem demais (dos "maus") para depois exagerarem, ao passo que se nunca tivessem havido alimentos "maus" nunca haveria a necessidade de "matar saudades", com o exagero característico de quem reage à restrição.
O seu trabalho de casa: sentir a liberdade da comida. Ou seja, comer consoante uma só lista, a lista que fez em consulta chamada "O que a Joana gosta e pode comer". (A única coisa que é proibido comer é veneno de ratos!)
Sabendo que quanto mais queremos emagrecer mais nos focamos em comida, vamo-nos afastando cada vez mais do nosso objectivo! Temos de arranjar maneiras de parar de pensar tanto naquilo em que menos queremos pensar: em comida! Posto isto, veja o que aconteceu à Joana e aprenda o que pode fazer por si.
Conheça a dietista crónica
A Joana tem 35 anos e é uma jovem saudável que toda a vida fez dieta. Agora, com 75 quilos e 37% de massa gorda, numa estatura média de 1,60 m de altura, pensa que "mais valia ter estado quieta" quando há dez anos fez uma dieta drástica usando medicamentos selvagens, prescritos por um médico nuestro hermano sem "escrúpullon", pois com 65 quilos "não gostava dos pneuzinhos aqui no meio". Desde então fez inúmeras outras tentativas, e mais recentemente a muito popular "Desgraça 10" (das ervanárias), sem sucesso duradouro e com aumentos de peso ainda maiores finda cada dieta. Decidiu então que almoçaria diariamente num dos muitos supermercados ditos saudáveis, o "Acelareiro" mas quando eu soube o que come lá, não me admirei de não ter emagrecido nada. Almoça maioritariamente vegetariano, um princípio louvável, mas à base de fritos, panados, quiches, empadas e folhados, e no final não dispensa uma sobremesa de soja. Ou seja, finalmente tomou a iniciativa de almoçar num sítio "saudável" (supostamente), e nem isso a ajudou! Compreensivelmente está desesperada, sem saber o que fazer, o que comer, quanto e quando comer. Está até com medo de comer! Contudo, tem excesso de peso e só pensa em emagrecer, e acha que só com dietas e força de vontade vai lá.
1ª consulta comigo (nutricionista): O que gosta de comer?
Pedi à Joana que escrevesse tudo aquilo que gosta de comer. Não foi assim tão simples esta tarefa, porque tinha alguma dificuldade em discernir entre o que gostava mesmo e o que era suposto comer. Passados poucos minutos, pedi-lhe que escrevesse quais os alimentos, dessa lista, que considerava "bons" e "maus". Ela assim fez, apercendo-se que seccionava (mentalmente) a comida e expliquei-lhe como essa divisão lhe era prejudicial, pois quando em dieta só comia dos "bons", e quando parava com a dieta só comia dos "maus". E tinha este comportamento de extremos ironicamente por acreditar que esta divisão lhe era útil e indispensável para o controlo alimentar!
Estava tão enganada quanto todas as pessoas que assim continuam a fazer e que se restringem demais (dos "maus") para depois exagerarem, ao passo que se nunca tivessem havido alimentos "maus" nunca haveria a necessidade de "matar saudades", com o exagero característico de quem reage à restrição.
O seu trabalho de casa: sentir a liberdade da comida. Ou seja, comer consoante uma só lista, a lista que fez em consulta chamada "O que a Joana gosta e pode comer". (A única coisa que é proibido comer é veneno de ratos!)
2ª consulta - Esqueça a Força de Vontade e Honre a Fome
A Joana voltou um pouco mais sorridente para o nosso segundo encontro, pois conseguiu durante alguns dias sentir a liberdade e a satisfação de comer sem
restrições. Foi a primeira vez na sua vida que se sentiu assim, mas admite que houve dias em que voltou ao velho hábito da proibição. Mas tomou-lhe o gosto e está a aprender!
Falámos dos seus medos de deixar de controlar as calorias e gramas de gordura, de deixar de fazer dieta e de perder o controle. Expliquei-lhe que aprendendo a ouvir e a respeitar os seus sinais internos seria a maneira mais confortável e eficaz de se controlar, coisa que não fazia por medo da sua incapacidade de auto gestão. Expliquei-lhe como era importante honrar a sua fome, comendo quando tinha alguma fome e parando quando se sentisse moderadamente cheia, ou "cheínha". No caso da Joana foi preciso relembrá-la dos sinais que significam estar com fome, pois com tantos anos em dieta, esses sinais internos foram atrofiados. Sugeri que comesse devagar e que comesse até 70% da sua capacidade, sem ter pena de deitar comida fora, se assim tivesse que ser, pois ela por vezes "fazia de caixote do lixo". Falámos também que não é com força de vontade que se consegue emagrecer, mas sim com planificação e organização, pois a força de vontade é de curta duração e um projecto desta envergadura precisa duma infra estrutura a longo prazo.
O seu trabalho para casa: honrar a sua fome e levar consigo snacks saudáveis. Durante 24 horas, pelo menos, comer quando sentir alguma fome e parar quando estiver cheínha. Em caso de dúvida, comer um pouco (algo com proteína e hidratos de carbono) de três em três horas, aproximadamente. Levar consigo fruta e pacotinhos de bebida de soja.
3ª consulta - Lidar com as Emoções e os Estragos das Dietas
Neste encontro a Joana partilhou a alegria de ter sentido a liberdade de escolhas e a liberdade de comer quando sente fome, sem tanto medo da comida, pois que já conseguira sentir a saciedade e definir a sua última "trinca" ou garfada.
Ao fazer menos restrição, a Joana também me contou que tinha menos desejos pela comida e por isso tinha menos episódios de exageros despoletados pela voracidade alimentar. Contudo, falou-me que por vezes ainda lhe era difícil não comer quando se sentia ansiosa ou chateada, um mau hábito antigo. Disse à Joana que temos de procurar outras maneiras de nos confortar e resolver os nossos problemas. Ansiedade, solidão, tristeza e estados de irritação todos sentimos. Cada sentimento tem o seu momento de arranque e de travagem; a comida não travará ou resolverá nenhum deles, poderá apenas (a muito curto prazo) anestesiar a dor! Então aí a Joana contou-me que não se lembrava da última vez que tinha chorado! Ela "comia a dor e as lágrimas", em vez de sentir essa dor.
Dado o progresso da Joana, decidi reforçar a ideia que os estragos feitos pelas dietas são tantos que fazer dieta era realmente o seu maior problema, logo nunca poderia fazer parte da solução. As dietas, entre outros, ensinam o corpo a reter mais gordura quando se volta a comer, diminuem o ritmo do emagrecimento e metabolismo, dão-nos sentimentos de falhanço e baixa auto-estima e aumentam as crises de voracidade alimentar. Com esta revisão da matéria, ela ficou ainda mais confiante na sua nova abordagem e conduta.
O seu trabalho de casa: lidar com os sentimentos sem comida. Entre o estímulo da dor e a nossa reacção há um momento; nesse momento pode escolher como vai reagir. Pare e respire fundo, não coma! Beba um copo de água, telefone a uma amiga, ou vá dar um passeio ao ar livre e pense porque se sente assim. Identifique a origem da dor e, com calma, se estiver ao seu alcance, decida agir de encontro à sua resolução.
Sinais de Progresso e Próximos passos
A Joana sem fazer dieta nenhuma emagreceu 5 quilos, e começou a ter melhor auto estima e mais auto confiança na sua relação com a comida. Mesmo não gostando, já aceita melhor o seu corpo gorducho, porque apercebeu-se que se desleixou e andou mal informada e que pode, a partir de agora, comer melhor e fazer exercício regular, na óptica do seu bem estar. Agora, com mais amor próprio e uma nova mentalidade, poderá cuidar-se e emagrecer com saúde.
Em breve estará preparada para um plano alimentar detalhado e personalizado para a ajudar a emagrecer equilibradamente. Até lá continuará a por em prática estas noções no seu dia a dia, sentindo-se cada vez menos envolvida com a mentalidade de dieta. Em breve conseguirá também, sem drama, pesar-se, comprar roupa, ir à praia e despir-se em frente ao namorado, e ganhar cada vez mais serenidade..
A Joana voltou um pouco mais sorridente para o nosso segundo encontro, pois conseguiu durante alguns dias sentir a liberdade e a satisfação de comer sem
restrições. Foi a primeira vez na sua vida que se sentiu assim, mas admite que houve dias em que voltou ao velho hábito da proibição. Mas tomou-lhe o gosto e está a aprender!
Falámos dos seus medos de deixar de controlar as calorias e gramas de gordura, de deixar de fazer dieta e de perder o controle. Expliquei-lhe que aprendendo a ouvir e a respeitar os seus sinais internos seria a maneira mais confortável e eficaz de se controlar, coisa que não fazia por medo da sua incapacidade de auto gestão. Expliquei-lhe como era importante honrar a sua fome, comendo quando tinha alguma fome e parando quando se sentisse moderadamente cheia, ou "cheínha". No caso da Joana foi preciso relembrá-la dos sinais que significam estar com fome, pois com tantos anos em dieta, esses sinais internos foram atrofiados. Sugeri que comesse devagar e que comesse até 70% da sua capacidade, sem ter pena de deitar comida fora, se assim tivesse que ser, pois ela por vezes "fazia de caixote do lixo". Falámos também que não é com força de vontade que se consegue emagrecer, mas sim com planificação e organização, pois a força de vontade é de curta duração e um projecto desta envergadura precisa duma infra estrutura a longo prazo.
O seu trabalho para casa: honrar a sua fome e levar consigo snacks saudáveis. Durante 24 horas, pelo menos, comer quando sentir alguma fome e parar quando estiver cheínha. Em caso de dúvida, comer um pouco (algo com proteína e hidratos de carbono) de três em três horas, aproximadamente. Levar consigo fruta e pacotinhos de bebida de soja.
3ª consulta - Lidar com as Emoções e os Estragos das Dietas
Neste encontro a Joana partilhou a alegria de ter sentido a liberdade de escolhas e a liberdade de comer quando sente fome, sem tanto medo da comida, pois que já conseguira sentir a saciedade e definir a sua última "trinca" ou garfada.
Ao fazer menos restrição, a Joana também me contou que tinha menos desejos pela comida e por isso tinha menos episódios de exageros despoletados pela voracidade alimentar. Contudo, falou-me que por vezes ainda lhe era difícil não comer quando se sentia ansiosa ou chateada, um mau hábito antigo. Disse à Joana que temos de procurar outras maneiras de nos confortar e resolver os nossos problemas. Ansiedade, solidão, tristeza e estados de irritação todos sentimos. Cada sentimento tem o seu momento de arranque e de travagem; a comida não travará ou resolverá nenhum deles, poderá apenas (a muito curto prazo) anestesiar a dor! Então aí a Joana contou-me que não se lembrava da última vez que tinha chorado! Ela "comia a dor e as lágrimas", em vez de sentir essa dor.
Dado o progresso da Joana, decidi reforçar a ideia que os estragos feitos pelas dietas são tantos que fazer dieta era realmente o seu maior problema, logo nunca poderia fazer parte da solução. As dietas, entre outros, ensinam o corpo a reter mais gordura quando se volta a comer, diminuem o ritmo do emagrecimento e metabolismo, dão-nos sentimentos de falhanço e baixa auto-estima e aumentam as crises de voracidade alimentar. Com esta revisão da matéria, ela ficou ainda mais confiante na sua nova abordagem e conduta.
O seu trabalho de casa: lidar com os sentimentos sem comida. Entre o estímulo da dor e a nossa reacção há um momento; nesse momento pode escolher como vai reagir. Pare e respire fundo, não coma! Beba um copo de água, telefone a uma amiga, ou vá dar um passeio ao ar livre e pense porque se sente assim. Identifique a origem da dor e, com calma, se estiver ao seu alcance, decida agir de encontro à sua resolução.
Sinais de Progresso e Próximos passos
A Joana sem fazer dieta nenhuma emagreceu 5 quilos, e começou a ter melhor auto estima e mais auto confiança na sua relação com a comida. Mesmo não gostando, já aceita melhor o seu corpo gorducho, porque apercebeu-se que se desleixou e andou mal informada e que pode, a partir de agora, comer melhor e fazer exercício regular, na óptica do seu bem estar. Agora, com mais amor próprio e uma nova mentalidade, poderá cuidar-se e emagrecer com saúde.
Em breve estará preparada para um plano alimentar detalhado e personalizado para a ajudar a emagrecer equilibradamente. Até lá continuará a por em prática estas noções no seu dia a dia, sentindo-se cada vez menos envolvida com a mentalidade de dieta. Em breve conseguirá também, sem drama, pesar-se, comprar roupa, ir à praia e despir-se em frente ao namorado, e ganhar cada vez mais serenidade..
Madalena Muñoz
93 828 73 98